A Prefeitura Municipal da Serra contratou uma empresa privada para realizar um estudo sobre a qualidade da água nas 21 estações da CESAN, responsável pelo tratamento de esgoto e distribuição de água no município da Serra. Os resultados obtidos mostraram que a água que sai dessas estações está mais contaminada que o próprio esgoto vindo da cidade.
Estações de tratamento da Serra entregam água pior do que esgoto
Basicamente, o estudo analisou amostras de água tratada por essas 21 estações da CESAN, que recebem o esgoto vindo da cidade e aplicam todo o processo de tratamento para depois despejar “água limpa” em rios, lagos e até no próprio mar. Assim, a análise mostrou que em mais de um terço dessas estações, a água que saiu da estação continha mais cianobactérias e coliformes fecais do que no esgoto que entrou.
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Ou seja, não seria nenhuma leviandade afirmar que oito de 21 estações da CESAN estão despejando água mais contaminada que o próprio esgoto, nas principais fontes hídricas da cidade. Locais onde existe vida marinha e frequentado pela população local, causado prejuízos ambientais irreparáveis para a Serra.
“A situação é a pior possível. Nenhuma das 21 estações de tratamento da Serra está em conformidade com a resolução da Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) e com a outorga da AGERH (Agência Estadual de Recursos Hídricos). Não atendem ao mínimo exigido”
Fala do secretário de Meio Ambiente do município, Cláudio Denicolli.
A exemplo da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Nova Carapina, a água que saiu da estação continha 1093 células por ML de cianobactérias ¹, já a água que entrou, em forma de esgoto, continha 736 cél/ML.
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Outro dato estarrecedor, foi que em seis das 21 estações a água tratada continha mais coliformes fecais² e E. Coli³ do que na água vinda do esgoto. Como no exemplo de Mata da Serra, que a água despejada pela estação apresentava 9,8 x 10⁶ NMP/100 mL, enquanto a água que entrou apresentava um percentual três vezes menor, com 2,4 x 10⁶ NMP/100 mL.
- Cianobactérias são também conhecidas com fitoplâncton. Podendo produzir toxinas que causam danos ao serem ingeridas por humanos.
- Coliformes termotolerantes são também conhecidos como coliformes fecais e se originam no sistema gastrointestinal de animais de sangue quente, como humanos, ou seja, partículas de fezes humanas.
- E.Coli é um tipo de coliforme termotolerante. Podendo causar infecção no trato digestivo, gerando sintomas como diarreia e dores.
Meio Ambiente e saúde da população serrana em risco
Esses dados comprovam a ineficiência do sistema de tratamento de esgoto da CESAN, que coloca em risco a saúda ambiental e também da população. Visto que esses efluentes de rios, lagos e mares fazem parte da vida do serrano, que se coloca em risco ao nadar e pescar em locais onde a água está completamente poluída.
Essa situação se reflete nas Unidades de Pronto Atendimento pelo município, que tem registrado aumento de pacientes se queixando de infecções intestinais, mal-estar, diarreia e outros sintomas após terem contato ou até consumirem a água distribuída pela CESAN.
O jornal Serra Noticiário já trouxe diversas matérias em que moradores da Serra denunciam mal-estar e fortes sintomas de infecção após ingerirem a água vinda da CESAN.
Embora esta água que sai da estação de tratamento não seja a mesma distribuída para o consumo, ela acaba contaminando os efluentes marinhos da região, as mesmas fontes de onde a empresa recolhem a água distribuída para o consumo.
O relatório afirma que todas as 21 estações da Serra apresentam irregularidades. Isso porque, até as estações que não continham inconformidades no número de bactérias e coliformes fecais, estão atuando com a portaria vencida.
Relatório aponta substâncias proibidas na água
Segundo o relatório, a análise também detectou a presença de antiespumante na água vinda das estações de André Carloni, Civit II, Furnas, Jacaraípe, Jardim Carapina, Feu Rosa e Nova Carapina. Basicamente, o antiespumante é uma substância aplicada para reduzir a espuma da água. Visto que, a espuma é um indicador da presença de poluentes além do permitido. Além disso, o antiespumante não é um produto químico permitido pelas licenças ambientais.
“Não é um problema só ambiental, é de saúde pública, que superlota as nossas Upas. As pessoas estão pescando e nadando em locais em que, por causa da poluição, não poderiam encostar a mão na água”
Secretário de Meio Ambiente do município, Cláudio Denicolli.
Estações de tratamento de esgoto já foram alvo de CPI
Infelizmente, este problema com o tratamento de esgoto na Serra já é um problema antigo. Inclusive, alvo de duas CPI comandadas pela Câmara Municipal da Serra, que produziu um relatório entregue ao Ministério Público para que as investigações fossem realizadas. Mas até o momento, nada aconteceu.
“A última CPI conseguiu comprovar que o esgoto não vem sendo tratado com eficiência como exige tanto o contrato quanto as legislações ambientais. Esse último relatório virou investigação (no MPES), mas até hoje não temos nenhum desdobramento dessa ação”
Vereador Anderson Muniz (PODEMOS)
CESAN afirma que estações estão de acordo com a legislação
A CESAN, por sua vez, questionou o método de recolhimento de amostras dessas análises, questionando se foram obtidas da maneira correta, sem que pudesse interferir nos resultados.
“A depender de um dia chuvoso, atípico ou do lançamento (irregular de esgoto) de um dia anterior em algum poço de visita, qualquer coisa que aconteça que não temos controle pode afetar (o resultado da coleta). Estamos falando de microrganismos que vivem nas lagoas que fazem o tratamento do esgoto. Quando esse meio é afetado, a amostra pode sair com alguma deficiência de informação”
Gerente de parcerias público-privadas da Cesan, Douglas Couzi
O gerente ainda afirmou que não teve acesso aos dados, e assim que os tivesse em mãos, iria adicioná-los na base de dados da CESAN para avaliar se, de fato, existem essas anormalidades na água tratada pela empresa. Douglas Couzi ainda afirmou que desde 2015 os dados são satisfatórios, mas não descarta irregularidades pontuais.
Sobre as bactérias, o gerente afirmou que sã as mesmas bactérias usadas no processo de tratamento de esgoto, que por meio de processos aeróbios e anaeróbios, essas bactérias consomem a sujeira da água. Sobre os antiespumantes, Couzi afirmou que se trata de um processo normal, aplicado em diversas estações do país para melhorar o aspecto da água.
MPES abre processo contra a Ambiental Serra
Vale lembrar que essas estações pertencem a uma parceria entre a Ambiental Serra e a CESAN. Com relação a essas denúncias de irregularidades no tratamento de esgoto, o Ministério Público do Espírito Santo informou que instaurou procedimentos de natureza cível e criminal contra a Ambiental Serra, e que mais processos tramitam em justiça sobre essas acusações.
Quem paga o preço é a população
Em meio a todo esse caos que se transformou a questão hídrica na Serra, quem realmente sai prejudicado é o morador da Serra, que se vê refém dessa situação e mensalmente honrando com a sua conta de água e esgoto. Além desses problemas com tratamento de esgoto, os racionamentos constantes, águas sujas de barro caindo das torneiras e outros problemas frequentes vão tirando toda a confiança na empresa CESAN e dando lugar à indignação.