É preciso falar de saúde mental e introduzir, de fato, o assunto na sociedade e nas políticas públicas para que resultados efetivos ocorram. O recente episódio do falecimento da jogadora de vôlei Walewska, cuja morte traz indícios de suicídio em pleno “Setembro Amarelo”, traz novamente à tona a pergunta: qual a atenção tem sido dada à saúde mental?
Sempre que ocorre um suicídio aflora o sentimento de humanidade e são feitos questionamentos tardios como: o que ela/ele sentia naquele momento? A vida parecia correr normalmente, por que se chegou a tal ponto?
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A saúde mental merece maior atenção, até para se atenuar estigmas de um dos maiores males de todos os tempos e que pode acometer qualquer um, independente de cor, religião, origem, classe social ou outra diferença.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2019 quase um bilhão de pessoas viviam com um transtorno mental, sendo 14% de adolescentes e, pior, 58% dos suicídios ocorreram antes dos 50 anos de idade!
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No atual modelo de gestão, só uma pequena minoria obtém o tratamento minimamente básico – estima-se que em países pobres não passe de 12% (OMS). A estrutura de apoio à saúde mental não chega nem perto da preocupação com a saúde física, deixando o fardo da depressão, da melancolia, da ansiedade, dentre outras para ser carregado pelos pacientes. Só no primeiro ano de pandemia, os casos de depressão e de ansiedade aumentaram em 25%. Em países ricos o tratamento minimamente adequado chega a apenas 1/3 dos pacientes.
O SUS é o grande trunfo do Brasil para melhorar a vida das pessoas. O Programa Estratégia de Saúde da Família tem sua origem em 1994 e visou reverter a ideia do modelo assistencial vigente que predomina o atendimento emergencial em grandes hospitais, transferindo a porta de entrada para a Atenção Básica, enfatizando também o desenvolvimento de ações preventivas.
Apesar do brilhantismo, é comum nos municípios a desatenção, a falta de profissionais, de medicamentos e, por óbvio, a falta de gestão e de investimentos adequados. Na Serra, por exemplo, há um 1 psicólogo para cada 12 mil habitantes e eles recebem em torno de três salários mínimos brutos somente.
É preciso um moderno plano de ação para saúde mental que a eleve à prioridade permanente de gestão, para a reconquista da dignidade e promoção de direitos básicos não só para o paciente, mas também para o grupo familiar que sofre junto. Como ponto positivo, todos os 194 Estados Membros da ONU assinaram o Plano de Ação Integral em Saúde Mental 2013-2030.
As ações a serem promovidas e as metas a serem alcançadas precisam focar no uso racional de medicamentos, notadamente, os benzodiazepínicos; na criação de espaços para discussão em grupo (com ética, profissionalismo e respeito); na integração da família, escola e comunidade para fortalecer o sentimento de amparo e diminuição de preconceitos; no aperfeiçoamento dos profissionais da educação e ofertas de oficinas e de espaços de lazer; na contratação de psicólogos e de psiquiatras, além de parcerias com comunidades terapêuticas e religiosas; no treinamento dos Agentes Comunitários de Saúde, porta de entrada do SUS. Só assim, de fato, a saúde mental será alçada à prioridade.
Artigo escrito por: Pablo Muribeca
*Este texto não reflete, obrigatoriamente, a opinião do Serra Noticiário
**Se você ou alguém que conhece está lidando com pensamentos suicidas ou automutilação, é possível encontrar ajuda. Fale com alguém hoje, no Centro de Valorização da Vida Gratuito durante 24 horas pelo número (188).